quarta-feira, 1 de abril de 2009

22/03/2009 Artias se mobilizam


Editorial da Folha revolta artistas Paraenses

Tortura, assassinato, abuso sexual e muitas outras formas de violência marcaram a ditadura militar no Brasil. Porém, não é o que acha o jornal “Folha de São Paulo”, que no editorial do dia 17 de fevereiro denominou os terríveis anos de repressão como “ditabranda”.

A partir daí, começaram discussões no país inteiro. Alguns artistas, revoltados com a opinião do jornal, decidiram se unir e protestar. Em Belém, o Corredor Polonês irá realizar o evento “48h Ditadura Nunca Mais”, nos dias 31 de março e 1º de abril.

“Essas datas marcam os dois primeiro dias do golpe militar, quando muitas pessoas não acreditavam no que tinha acontecido, por conta do conhecido ‘Dia da Mentira’”, explica Arthur Leandro. Arthur foi o primeiro artista paraense a se manifestar. “Eu estava conversando pela internet com a (artista plástica) Lúcia Gomes sobre o editorial da Folha e decidimos fazer algo para registrar a nossa indignação. Em pouco tempo, outras pessoas já estavam envolvidas”, conta.

O artista, que também utiliza a fotografia como expressão, construiu um blog denominado “Criados-Mudos, nascidos na ditadura” (http://criados-mudos.blogspot. com) e postou uma foto sua amordaçado. Logo em seguida, outras pessoas que também nasceram no período da ditadura enviaram suas fotos para serem postadas. A intenção é que as fotos sejam impressas e espalhadas pelos bairros de Belém.

“Essa manifestação artística não é contra a Folha de São Paulo, mas sim uma maneira de lutar pelos direitos humanos e pela preservação da memória da nossa história recente. O editorial foi apenas o mote desse movimento”, diz Arthur Leandro. O artista explica o motivo que o levou a fazer esse tipo de manifestação. “Minha experiência escolar marcou a minha vida, eu sentia muito medo. Nós não podíamos perguntar nada, caso contrário, meus pais poderiam ser punidos de alguma maneira. A foto com a mordaça foi um reflexo bastante pessoal de como eu enxerguei a ditadura”.

A programação do Corredor Polonês começa às 8h, nos bairros de São Brás e Guamá, com a transmissão de vinhetas que irão contar um pouco da história da ditadura. A partir das 10h, na Praça da Bandeira, Humberto Cunha e Ercília Fontelles, pessoas que foram torturadas na época da ditadura, serão entrevistadas. Já às 19h, em frente ao Corredor Polonês, o Cineclube irá exibir entrevistas com diversas pessoas que viveram essa época, além do filme “Pra Frente Brasil” (1983).

O longa mostra a Copa de 1970: enquanto os brasileiros torciam pela seleção que estava jogando no México, prisioneiros políticos eram torturados nos porões da ditadura militar e inocentes eram vítimas da violência. Todos esses acontecimentos são vistos pela ótica de uma família, quando um dos seus integrantes, um pacato trabalhador de classe média, é confundido com um ativista político e “desaparece”. Além de Arthur, muitos outros artistas estão envolvidos, como Isabela do Lago, Bruna Suelen, André Leite e Merreca 253. “Não somos um grupo fechado”, diz Bruna.

“Qualquer pessoa que queira se juntar a nós será bem-vinda. Não existe um chefe ou coordenador, o Corredor Polonês é o espaço que nos une”, diz Bruna. Em outras cidades, como Belo Horizonte, também ocorrerão manifestações. A artista Eliane Veloso, que é pernanbucana, chegou ao nome de um político desaparecido, que morreu na rua em que ela morava no Recife na época da ditadura. A artista decidiu então trabalhar com a memória.

“O nome do homem morto era José Carlos Mata Machado, então ela pegou a lista telefônica de lá e ligou para várias pessoas que se chamam José Carlos, perguntando a opinião delas sobe a ditadura. Essas entrevistas foram gravadas e serão exibidas em vídeo”, explica Arthur.

SERVIÇO: Dia 31, a partir das 19h, em frente ao Corredor Polonês (rua General Gurjão, 253, esquina com a Ferreira Cantão), realização do evento “48h Ditadura Nunca Mais”, com a exibição do filme “Pra Frente Brasil” no cineclube. Informações: 3222-7543.

(Diário do Pará)

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